
Hoje cedo na fronteira
bem quando os galos cantaram,
nuvens negras destaparam
um poncho negro no céu...
previsão de chuvarada,
das que sacam poeira da estrada,
e enxarcam a aba o chapéu !
Meus olhos recém abertos
ao mirarem o horizonte
trouxeram a chuva na fronte
bem antes dela chegar...
e eu no campo sozinho
rezando um terço baixinho
pra a a tormenta não pesar !
A gadaria no campo
abre caminho ao capão
sabem que logo o rincão
beberá a água santa...
por sorte,hoje é primavera
e até o pasto da tapera
de certo agora levanta !
De mate em mãos -já cevado-
abancado nos pelêgos
me resta esperar o achego
da bomba d'água em reponte...
quem sabe,traga quimeras
ares de outras primaveras
das serenatas de "ontonte" !
Enfim escuto o goteio
sobre a quincha do galpão
e a terra fina do chão
começa o ciclo do barro...
chegou com o vento padrinho
que entona redemoinhos
e espana a crina dos malos !
E esses potros retossando
retendo a água no lombo
"por vez" se ariscam do estrondo
retumbado dos trovões...
até o pelechar anual
teima em atrasar o ritual
por instinto de proteções !
Minhas mãos deixaram do mate,
agora em cordas se entretem
cabrestos e buçais crescem
na velha lida guasqueira...
talvez não tivessem rendido
sem o convite amigo
desta chuva companheira !
O tempo cruza ligeiro
tal qual um pingo que cai
a chuva forte se vai
transforma-se em garoa...
logo se foi por inteira,
se ouve cantos na porteira
que um joão-barreiro entoa !
Fiquei eu trançando tentos,
entreveirado dos mates
- vou findar este arremate
num buçalzito de doze ... -
depois contemplar os campos
ver bondades e quebrantos
que a chuva me causou hoje !
Por fim,o verso acompanha
as águas que vão embora
mas deixa sempre a memória
agoada aos sonhos dos meus...
que a chuva sempre é bem vinda
pois num repente os brinda
com o mate santo de Deus !
Patrique Severo @patriqsevero
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